Por @

7 minutos

de leitura

Resenhão de ✸ mesas digitalizadoras ✸

Oie!

Em todo o lugar que precisa de uma descrição rápida de quem eu sou, eu coloco “artista digital”. Para mim isso vem antes até de ser quadrinista. Desde que conheci o conceito de mesa digitalizadora, eu sabia que aquilo era para mim. Meu pai odiava quando eu pegava as folhas da impressora dele, os professores brigavam quando eu desenhava em livros e cadernos e minha mãe nunca me deixou fazer um risco na parede. De repente eu descubro um lugar que eu posso desenhar o que quiser, quantas vezes quiser, com qualquer cor, material e textura… para sempre? Sem ter que gastar dinheiro ou ouvir esporro? Era o futuro.

Anos depois eu comecei a reconhecer o valor de se desenhar no tradicional. De não depender tanto de um control+z, um zoom ou um flip canvas. Hoje eu sempre tenho um sketchbook físico que me acompanha no dia a dia, e tento marcar ‘encontros’ com ele para nunca abandoná-lo. Acho importante tentar sair da sua zona de conforto, se lembrar que existem outros meios de fazer arte que não é o que você já está acostumado… Mas isso é papo para outro dia! Por hora, gostaria de falar sobre todas as mesas que usei e o que eu aprendi sobre elas e sobre mim.

One by Wacom

Foi a minha primeira mesinha — o nome antigo era bamboo. Fui nela porque era a mais barata e eu só queria algo para começar. Estava desenhando no mouse já fazia um tempo e a mudança para a mesa digitalizadora foi encantadora. Os pontos de pressão eram incríveis, a textura da superfície era a mesma que um papel. Demorei muito para me acostumar a desenhar olhando na tela, e também a como configurar o meu brush de um jeito que me caísse bem, mas a transição em si foi ótima. Eu estava encantada com todo o potencial que aquilo poderia ter, com todo o mundo novo que estava se abrindo para mim.

Aconselho a One para todo mundo. Eu uso até hoje, trabalho profissional ou hobby. Primeiro amor a gente nunca esquece, né? Com ela eu fiz quadrinhos, ilustrações, animações, tudo o que eu podia imaginar. Não se deixe enganar pela aparência minimalista e falta de propaganda. Se existe alguma mesa que eu vou recomendar aqui, é essa!

Wacom Cintiq

Essa é a irmã “profissional” da anterior. Quando comecei a querer trabalhar com os quadrinhos, achei que só seria possível se eu usasse essa ferramenta — porque “todos” os profissionais usam. Eu sentia que faltava algo em mim e que só podia ser essa a solução. Esperei e remoí esse sentimento até que uma conhecida foi aos Estados Unidos e pude comprar uma através dela, com um preço bem mais em conta. Eu fiquei encantada de início, mas logo a magia foi se desfazendo. Essa mesa me dava muita dor nas costas! E olha que eu estava acostumada a desenhar com uma postura horrorosa a minha vida toda.

Essa mesa também foi um pouco demais pra mim. A tela grande dela (e eu comprei a menor que tinha!) fazia eu me perder na proporção do meu desenho, quando eu ia olhar ou o zoom ficava muito grande ou muito pequeno. Apesar disso ser coisa que com o tempo se acostuma, a dor nas costas não me deixou chegar nessa etapa. Não suportei a transição. Voltei a usar a One e essa Cintiq ficou tão encalhada aqui em casa que meu irmão foi levar para usar e eu nem sabia onde estava a caneta.

Pretendo voltar a usá-la apenas porque gravar vídeos nela é mais esteticamente agradável do que gravar usando a One by Wacom. Mas confesso que estou sem pressa nenhuma para gastar 700 reais numa caneta nova.

Samsung Galaxy Tab A

Por um período em que eu queria muito uma mesa portátil com display, comprei esse tablet baratinho da Samsung. Acho que ainda não existia o Ipad Pro, ou tinha acabado de ser lançado — era meados de 2016 — e a Wacom Cintiq ainda era muito cara pra mim.

Sem tantos pontos de pressão e com uma textura extremamente lisa da tela, eu não tinha um controle muito bom com os meus desenhos. Ainda sim não achei a pior coisa do mundo. Acho que com muita força de vontade dá pra fazer algo legal, você se acostuma. Teve até um ou dois desenhos que eu gostei bastante que fiz com ela. Tem gente que desenha bem até com o dedo direto no celular, né?

Depois que consegui comprar a Wacom Cintiq, o Galaxy Tab A virou a minha “mesa digitalizadora portátil”. Me ajudou a fazer rascunhos do meu primeiro quadrinho quando eu estava na rua ou na faculdade! Depois quando veio o Ipad, acabou virando um tablet de leitura pra minha mãe.

Como esse tablet foi baratinho e atendeu a vontade que eu tinha na época, eu não me arrependo de nada!

Ipad Pro

Depois de começar a trabalhar profissionalmente na área de quadrinhos, eu juntei uma grana boa que me permitiu esse luxo — porque é isso o que o Ipad é: um grande luxo. Ele é muito bom como uma mesa digitalizadora portátil com tela e eu ainda posso usar para ler como se fosse um Kindle. Gosto muito dessa minha compra, mas me arrependo do quanto achei que ia ser a melhor coisa do mundo. Não foi. Não revolucionou meu jeito de trabalhar nem me fez abandonar o meu One by Wacom. Uma decepção parecida com a que eu tive na Cintiq.

O Procreate é uma ótima ferramenta, mas nada superior ao Clip Studio ou Photoshop. A tela é lisa (mesmo com uma película de textura de papel) e achei a ponta do Apple Pencil grossa e estranha, é muito diferente de tudo o que eu tinha usado e nunca consegui realmente me acostumar a desenhar ali. Também me deu algumas dores nas costas.

Talvez falte mais prática, ou talvez eu seja muito apegada a ponta das canetas da Wacom (e da Samsung). Pretendo tirar essa dúvida agora que fiz umas compras para tentar me adaptar novamente ao Ipad… Mas isso fica para um post futuro 🙂 pretendo falar mais sobre periféricos de mesas digitalizadoras: película, nibs, luva, teclado de atalho, suporte e etc; e como isso pode melhorar sua adaptação.

Em resumo, eu acho que sempre me deixei influenciar demais pelos vídeos na internet. Realmente é muito legal ver todo mundo desenhando no Ipad ou na Cintiq, mas ver é uma coisa e desenhar é outra. Toda a vez que eu imaginei que uma ferramenta mais cara fosse melhorar meu desenho, eu estava era negligenciando a única coisa que poderia me trazer evolução: focar no meu traço ao invés de como eu faço ele. Não sejam apressados para gastar dinheiro com mesas. Não coloquem suas esperanças em uma caneta mais moderna. Se você quer melhorar sua arte, a última coisa que você vai precisar melhorar é sua ferramenta. (Não que ela não importe, mas sim que é realmente a última na lista de prioridades)

No mais, eu gostaria de reforçar a importância de também desenhar fora do digital. Você ter um sketchbook em que só desenha de caneta ou lápis, ou treinar novas mídias como aquarela ou gouache. É importante não se esquecer que uma parte muito importante dessa profissão é experimentar, se aventurar e estudar.

Tô animadíssima para, em breve, também falar com vocês sobre meus sketchbooks e como eu tenho usado esse momento para ser algo agradável e que faz meu traço evoluir!

Juliana Moon


9 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Oi, Juliana! Acompanho você pelo Instagram a algum tempo e vim aqui ver o seu blog. Adorei o jeito que você escreve e pretendo continuar acompanhando!

Tive o mesmo problema que você só que ao contrário: não consigo me adaptar ao desenho digital, a mesa digitalizadora e etc.

Estava pensando que eu precisaria de um Tablet ou Ipad para realmente me acostumar, mas lendo sua resenha me fez repensar isso e me deu vontade de continuar tentando e aprendendo com a minha mesa da wacom.

Muito obrigada pelo post e espero ver mais publicações suas! 😀 Até mais.

Last edited 3 meses atrás by McCascavel

Eu custei muito a me adaptar minimamente ao desenhar no digital. Fiquei anos usando só pra colorir ilustrações tradicionais. Hoje já me sinto bem melhor desenhando no digital (usando a One by W). Demorou muitos anos MESMO, mas também nunca foi meu foco. Se tiver a chance, usa emprestado de alguém uma dessas paradas mais caras e principalmente pensa na evolução do seu trabalho como um todo (desenho, narrativa se a intenção for quadrinhos e etc)

Estou começando a fase de colorir no digital, mas ainda assim é um grande mistério pra mim, porque confesso que evito ao máximo praticar. Muito obrigada pelos conselhos e vou tentar ver com uns amigos de testar essas telas, vai que né. E é isso mesmo, a prática que faz a gente ir pra frente.

Eu também uso a One by Wacom e agora que finalmente me acostumei um pouco com DESENHAR (só usei pra colorir por mais de década) fico na duvida se vou me adaptar, no futuro, com uma tela estilo Cintiq, mas tenho vontade de experimentar porque acho que pode ser um atrativo numa transição do tradicional pro digital. Porém tentar pegar emprestada, porque tenho medo de investir o que não tenho em algo que não vou curtir (já testei uma vez e foi muito estranho).

E excelente o conselho sobre não priorizar material foda. Eu sempre indico a One by Wacom porque sei que ela dá conta do recado e tem bom preço. Quem ta começando deveria ter outras prioridades mesmo!

kkkkkkkkkkkkk narrativa em Z chora nesse momento!

Eu caí nessa de que o ipad ia revolucionar a minha habilidade. As únicas reais vantagens foram: a portabilidade, o estabilizador de traço (que na real eu deveria é estar praticando sem ele) e conseguir olhar e desenhar no mesmo lugar.
A única coisa que vai melhorar meu desenho é a prática. Sinceramente, tenho estado numa fase meio desmotivada para isso. O que eu mais queria por agora é uma ferramenta mágica que fizesse minha mão reproduzir o que tá na minha cabeça kkkkkk