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Artistas & Redes Sociais

O ano era 2013, e eu tinha um grupo de amigos na escola que era muito unido. A gente sentava perto no colégio e quando chegava em casa, entrava no skype e jogava League of Legends. O jogo tinha criado um server brasileiro fazia pouco tempo, eles estavam fazendo sucesso e todo mundo queria jogar — o que era bom porque precisa de 5 pessoas para fechar time. A gente tinha personagens preferidos, mas com frequência a Riot criava novos nomes. Eu, que sempre gostei de jogar na selva, surtei quando lançaram a Vi!

Os personagens começaram a aparecer nos meus rabiscos, em livros e cadernos, de tanto que eu pensava neles. Eu lia suas histórias e tinha ideias de tirinhas. Comecei a desenhar as tirinhas! Meus amigos gostavam tanto delas que eu resolvi fazer uma página na rede social do momento — pasmem — facebook!

Eu comecei a receber likes e comentários e compartilhamentos. Um dia minha tirinha foi traduzida em inglês e apareceu em um site dedicado a LOL. Conheci outras pessoas que desenhavam também, brasileiras, e comecei a fazer novos amigos e ter mais gente para jogar junto. Isso desandou para eu criar minha própria página do facebook para postar desenhos autorais, mas a página de fanarts era ainda meu foco principal. Quando as ideias pararam de vir de forma natural, comecei a pensar mais e tentar pegar novas inspirações. Estudei mais as histórias oficiais e também o universo em si. Ficava de olho no que os jogadores diziam, o que era piada interna, o que era estereótipo de um personagem e o que outros artistas estavam fazendo.

Não sabia onde aquilo iria dar. Não era como se eu fosse virar uma profissional de LOL, eu só estava seguindo o que estava curtindo fazer. Eu gostava da comunidade que estava participando. Comecei a ver livestreams de jogadores profissionais para melhorar minhas habilidades, e fiquei surpresa quando a Twitch habilitou a aba Creative, para lives que não fossem sobre jogo nenhum. Resolvi fazer minha própria live, eu desenhando uma tirinha ou fazendo fanart, não lembro.

A primeira live foi tranquila e peguei cerca de 10 pessoas online. A segunda, não lembro. Em algum momento entre a terceira ou quarta, algo aconteceu. Um cara entrou na live e, eu que não mostrava nem o rosto e mal falava no microfone, fiquei desconfortável quando ele quis saber de mim. Poucos minutos depois, ele estava linkando meu facebook pessoal na live. Ele tinha me stalkeado e conseguido o link. Meu amigo (Luan! <3) apagou rapidamente, pois sabia que aquilo ia me deixar desconfortável, mas eu fechei a live mais cedo. Não abri outra por anos.

Nessa época, poucas mulheres faziam lives. As que faziam ouviam todos os tipos de atrocidades. Eu não queria ter que lidar com nada de ruim, só queria compartilhar minha arte. Pareceu impossível naquele momento. A página de fanart também acabou sofrendo em consequência. Comecei a entender que não tinha motivo para gastar minhas energias com aquilo. Não ia dar em nada, afinal.

Foquei na minha página pessoal. Compartilhava tudo o que desenhava por lá. Fazia algumas tirinhas sobre a vida. Havia um grande número de artistas postando no instagram e eu queria ir pra lá também. Os maiores nomes já estavam com milhares de seguidores! E todos eles tinham o perfil lotado de desenho. Quando fui publicar, criei uma nova conta como se fosse uma extensão da página do facebook. Não fazia sentido para mim, colocar meu desenho no meio das minhas fotos pessoas. Mesmo que eu mal tivesse fotos. Queria ser conhecida pela minha arte. Não queria ninguém comentando sobre a minha vida, ou coisas que me deixassem desconfortável.

Também comecei a postar no twitter. Minha conta lá era pessoal, mas aos poucos virou profissional. Em 2018 quando eu estava mirando em um trabalho internacional, comecei a só falar inglês e postar muito pouco, com medo de postar algo polêmico que meu futuro empregador não gostasse.

Fui me podando. Se um desenho não tivesse bom o suficiente, não valia a pena continuar ele. Se a ideia não fosse algo que agradasse o “público” (e uso esse termo na forma mais abstrata possível), era algo que não valia a pena sair do rascunho. Não experimentava desenhar coisas novas ou diferentes porque seria perda de tempo. E então quando eu finalmente postava, havia muita expectativa para likes. E cada vez menos o algoritmo estava mudando para exigir algo que eu não conseguia dar.

O que a gente pode controlar é como a gente age diante das coisas, né? Resolvi parar de me importar com algoritmo. E então com likes. E então com desenhar para rede social. Eu precisava trabalhar nos meus quadrinhos, e também precisava estudar mais arte. Qual é o sentido de dedicar toda sua vida para rede social, se o meio pelo qual você ganha dinheiro não envolve ela? Isso me deu uma nova perspectiva: não sou influencer, sou artista.

O período que trabalhei em Oh My Gods! eu mal postei. O prazo era curto e todo o dia eu tinha que desenhar bastante. Era bom — eu escolhi assim. Queria me dedicar inteiramente para entregar o livro e não pensar mais em outra coisa. Até que, em algum momento, eu ficava um pouco de saco cheio de desenhar os mesmos personagens. Eu tinha uma nova ideia legal e queria rascunhar ela. Me permiti, entre uma entrega ou outra, a folga de desenhar o que eu simplesmente estava afim. Não imaginava a falta que aquilo estava me fazendo!

Continuei usando as redes sociais como bem entendia por um bom tempo. Infelizmente, a frustração chegava em ondas: eu ficava empolgada com um desenho e postava, e o retorno era pífio. Era um constante trabalho de me lembrar que o algoritmo me sabota conscientemente. Eu não obedeço suas regras. Mas e agora que vou trabalhar como independente?

Tentarei focar em quanto gosto de escrever e desenhar. O quanto é legal compartilhar experiências, e contar para as pessoas o que eu ando fazendo. Não ter vergonha de postar mais de uma vez, não me podar no que vou falar por medo de ser julgada ou mal interpretada. Postar foto do meu cachorrinho se der vontade, independente se as pessoas querem ou não ver ele. Pensar mais na minha diversão do que o “publico” “quer ver”. Como alguém pode esperar algo de você, se essa pessoa nem te conhece?

Não quero mais ter medo de ser percebida, de pegar meu espaço, ter uma “existência” que está fora do meu controle. Ainda odeio todas as pessoas (especialmente homens) que são inconvenientes, mas hoje sei que me calar diante a isso é só confortável para eles.

Acima de tudo, percebi que enquanto eu não falava sobre Bruxinha Juju, ninguém sabia o que eu estava fazendo. Podiam ver milhares de rabiscos no stories, mas não saberiam do projeto a menos que eu entrasse em detalhes. É isso que eu quero mudar. Eu quero mostrar para as pessoas quem eu sou e o que estou fazendo. Em um mundo ideal, até deletaria minha conta pessoal — não quero mais me dividir, ter uma “persona profissional” — quero ser só eu. Mas uma coisa de cada vez, não é?

Essas ideias foram também inspiradas pelo o que eu gosto de ver dos grandes profissionais que eu acompanho. A arte que eles fazem é um claro reflexo de quem são. A minha provavelmente mais ainda, já que em Bruxinha Juju, os personagens são baseados em pessoas que conheço. A protagonista literalmente carrega meu nome. Aqui no blog, o mascote é meu grande muso, meu cachorro Bruce Moon. E minhas tirinhas, projetos de quadrinhos, e até futuros produtos da lojinha (vem aí!!), são todos fragmentos da minha vivência e gostos.

Essa estratégia não vai me trazer likes e seguidores. Eu entendo que ficarei frustrada vez ou outra. Mas o objetivo é justamente deixar de ser uma empresa no instagram. Cansei de ter ressentimento por algo que “tenho que usar”. Eu preciso fazer as coisas funcionarem para mim, e não eu funcionar para elas. É um caminho para isso que estou trilhando. Pode ser que daqui a uns anos eu venha e mude completamente de opinião, mas pelo menos estou fazendo algo diferente do que só reclamar de novo.

Eu espero que vocês me acompanhem nessa jornada. Estou tentando mudar aos poucos, mas tenho muitos planos para 2025. Aos poucos eu vou revelando eles pra vocês!

Juliana Moon


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